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Uma reflexão sobre o consumo da internet entre jovens e adolescentes

Foto: Pexel

Exclusivo GREA - Opinião



De acordo com uma pesquisa realizada pela Hoopsuite em parceria com a We Are Social, cada brasileiro passa, em média, nove horas e vinte minutos conectado à internet por dia, fazendo com que fiquemos atrás apenas da Filipinas, que ocupa a liderança mundial de uso. Já outra pesquisa da TICdomicílios, feita em 2019, 134 milhões de brasileiros acessam a internet preferencialmente pelo aparelho celular, sendo que a faixa etária predominante no consumo da internet, está entre 16 e 24 anos .



Esta mesma pesquisa também nos aponta que o uso da internet foi preferencialmente voltado para atividades de comunicação com crescimento de chamadas por voz ou vídeo (73%).


Pensando nessa relação dos jovens com a internet, convidamos a jornalista Brenda Fucuta, escritora do livro Hipnotizadoso que nossos filhos fazem na internet e o que a internet faz com eles, para falar um pouco sobre os dados e as reflexões levantadas em seu livro a respeito do uso da internet entre jovens e adolescentes.


Confira na íntegra:


Em seu livro "Hipnotizados", você cita que Oliver Houdé professor da universidade de Sorbonne, vê a geração z ou centennials, como mais empreendedoras e autodidatas. Por outro lado, no documentário "O dilema das redes", especialistas também dizem que estamos lidando com uma nova geração mais ansiosa, frágil e deprimida. Quais reflexões você acredita serem importantes diante deste cenário?


A geração centennnials parece, de fato, mais autodidata do que a anterior, dos seus “irmãos mais velhos” – millenials ou geração Y. Imagino que isso tenha a ver com o fato de os centennials fazerem parte da primeira turma de humanos que têm à disposição uma internet robusta e acessível. Eles não aprendem só na escola ou em casa, aprendem com youtubers, professores virtuais, com jogos em rede... Eles aprendem da maneira que quiserem e com quem quiserem, por isso, sim, eu diria que, mais do que autodidatas, eles são subversivos em termos de aprendizado. Quanto ao empreendedorismo, acho que vamos ter que esperar para ver. Estamos falando de uma geração que nasce na passagem do milênio e que, portanto, está na adolescência, um pouco cedo para saber se o professor belga, Oliver Houdé, acertou na sua aposta. Já os aspectos emocionais que têm sido associados a essa geração, tida como mais ansiosa e deprimida, parecem estar relacionados ao uso intenso das redes sociais. Vários estudos e artigos defendem a ideia de que as redes potencializam os sentimentos de inadequação do adolescente. Tudo isso parece fazer sentido, mas, de novo, ainda precisamos esperar para ver. Existem outros fatores que podem ser considerados. Cito no livro, por exemplo, os estudos sobre os prejuízos sobre a saúde física e mental de crianças e adolescentes causados pelo estilo de vida cada vez mais indoor. Nesta linha de raciocínio, esta geração ainda recebeu um impacto singular, com o surgimento da pandemia e do isolamento social estendido.

Mas eu acredito que, para o bem e para o mal, nós estejamos superestimando os traços geracionais dos centennials. Estamos fascinados e apavorados, ao mesmo tempo, com a evolução tecnológica e transferimos para os nossos filhos este misto de sensações. Enxergamos neles capacidades de super-humanos, como se eles fossem superiores a nós, detivessem um conhecimento ao qual não temos acesso. Embora seja natural que eles demonstrem mais domínio do que a gente no uso dos devices eletrônicos, defendo no livro que podemos e devemos resgatar nosso papel de guias – de adultos – na relação com os nossos filhos, especialmente diante das TICs, as tecnologias de informação e comunicação. Devemos voltar a ser adultos e não ter medo de ensinar o certo e o errado na interação com outros humanos. Honestidade, integridade, empatia, respeito ao outro: isso vale para qualquer plataforma de comunicação e para qualquer época. Para mim, esta é a principal reflexão: em termos de valores éticos e de convivência, os digitais centennials precisam da orientação dos seus pais analógicos.


Também em seu livro, você nos explica o termo "selfie sexies" como um modelo de fotografia reproduzida em massa, que pode ser interpretada como "o corpo é meu e eu gosto dele bonito e gostoso", porém contrapõe de que "é muito possível que o modelo de beleza nunca tenha sido tão rígido". Gostaria que você falasse um pouco mais sobre essa relação da busca da auto estima através das redes e o por que interpreta-la como uma "faca de dois gumes".


Usei este termo para batizar um capítulo dedicado a esta experiência coletiva de divulgação de autorretratos nas redes sociais que estamos vivendo. Nessa experiência, destaco o gestual sexy que jovens exploram com avidez. De onde vem esse gestual? Do imaginário pornográfico, principalmente, de onde surgem modelos de “beleza” absolutamente engessados. E como esse fenômeno, o do modelo de beleza pornô, interage com o feminismo, outra apropriação desta geração? Eles são aparentemente opostos, já que a pornografia submete mulheres a uma posição de passividade e de humilhação. Então, como se combinam? Essas são as questões que levanto. Acho muito interessante acompanhar o que vai acontecer com este mix tão inusitado. O que acontecerá quando essa geração, que soube divulgar ideias feministas com mais eficiência do que qualquer outra, se rebelar contra selfies e belfies sexies? Ou o que acontecerá com o feminismo se ele incorporar essa eroticidade tão explícita?


Em 2019 a rede social Instagram alterou a funcionalidade das "curtidas" para que apenas os proprietários dos perfis tivessem acesso ao número de curtidas das fotos como uma forma de "diminuir a competitividade" entre usuários. Você acredita que medidas assim possam ter um efeito significativo no uso das plataformas como ferramenta de auto afirmação e construção da auto imagem?


Sim, acredito que qualquer medida que resulte de uma postura mais consciente das empresas de tecnologia é positiva. Mesmo que os efeitos não sejam tão significativos como se pretendia, o que importa, neste momento, é o surgimento do debate sobre a influência da programação no modo como usamos os devices. Qualquer medida que promova a alfabetização das pessoas sobre as novas tecnologias é muito válida porque continuamos às cegas, sem nos preocuparmos com o que será feito de nossos dados, de nossa privacidade, da saúde mental dos adolescentes que se tornam dependentes de jogos e redes que abusam dos mecanismos “viciantes”.


Você acredita que a internet pode influenciar na comunicação entre as gerações?


Acredito muito. Durante a pandemia, a internet foi extremamente importante para promover a proximidade entre amigos, famílias, idosos, jovens. Por outro lado, sou muito crítica em relação ao design dos devices, totalmente unfriendly para maiores de 60, 70 anos de idade.


Gostaria que você nos contasse a diferença entre os impactos do bullying e do cyberbullying.


Os dois têm a mesma raiz, mas o cyberbullying possui escala e permanência. Enquanto a vítima do bullying poderia se mudar de escola e de cidade, por exemplo, como medida mitigadora dos danos, a vítima do cyberbullying poderá ser perseguida pelo resto da vida pela agressão que sofreu. Nesse sentido, o bullying que pode ser compartilhado em inúmeros grupos e eternizado no poço de memória infinita da rede, é ainda mais perverso.


Referências

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