Por: Ana Beatriz B. Abrahao
Especialistas em suicídio e prevenção usam a expressão “means matter” ou “os meios importam” (1). Isto porque está provado que limitar o acesso a “meios letais” pode prevenir suicídios (2).
Embora em vários países como Dinamarca (3), Canadá (4) e outros, a redução das taxas de suicídio em 30– 50% tenha sido associada ao “método de restrição aos meios” e esta abordagem seja componente importante das estratégias nacionais de prevenção ao suicídio em muitos países, é necessário que haja distinção entre os esforços que tentam limitar o acesso físico e os que tentam reduzir a propensão cognitiva ao suicídio. Há problemas potenciais envolvidos nos métodos de limitação, como por exemplo fatores de substituição, em que existe o risco de que métodos alternativos sejam utilizados, quando um específico meio é restrito.
Autores como Julia Buss Florentine e cols (5) , discutem que dentro de contexto apropriado, limitação ao acesso - tanto física, quanto cognitiva, pode ser estratégia de prevenção efetiva. Em estudo importante publicado por Ted R Miller e cols (7), os autores avaliaram dados de censos de 05 departamentos de emergências e altas hospitalares de 11 estados americanos entre Jan 2011 – Dez 2012, com o objetivo de examinar a associação de drogas consumidas com a intencionalidade da letalidade da overdose. Utilizando critérios metodológicos rígidos e lidando com limitações importantes (como por exemplo, o fato de que drogas envolvidas em atos suicidas nem sempre são testadas e identificáveis), os autores demonstraram que de 421.466 atos suicidas por envenenamento resultando em 21.594 mortes, entre as várias classes envolvidas nas tentativas suicidas, as combinações incluindo opióides e barbitúricos aumentaram o risco de que a tentativa suicida pudesse se tornar letal.
Os autores estimaram a proporção de pessoas que morreram de atos suicidas envolvendo drogas específicas e que poderiam ter sobrevivido à overdose, se a combinação de drogas tivesse omitido uma classe (por exemplo, quantos suicídios consumados que envolveram opióides, poderiam não ter sido fatais, se opióides não estivessem envolvidos). Após dados ajustados para escolha das drogas, a letalidade foi menor em jovens, quando comparada a de adultos, e as composições de drogas escolhidas por jovens foram diferentes das escolhidas por adultos. Jovens escolhiam não opióides e analgésicos (acetaminofem, aspirina ou ibuprofem) antidepressivos e anti eméticos.Tentativas suicidas em adultos incluíam álcool, benzodiazepínicos, cocaína, opióides e drogas para tratar doenças crônicas. “Os achados sugerem que drogas que podem ser letais em overdose, quando combinadas, devem ser armazenadas em casa, de forma segura e drogas letais devem ser embaladas em blister” Os autores pontuam que 75% a 87% das mortes não teriam ocorrido se as “vítimas” não tivessem tido acesso a opióides e corroboram a premissa inicial de que os meios importam.
Referências: 1. Harvard School of Public Health .Means matter : lethal means counseling. Published 2008 www.hsph.harvard.edu/means-matter/lethal-means-counseling 2. Barber CW,Miller MJ.Reducing a suicidal person´s access to lethal means suicide : a researchagenda.Am J Prev Med .2014; 47(3)(suppl2):S264-S272.doi:10.1016/j.amepre.2014.05.028 3. Nordentoft M. Prevention of suicide ans attempted suicide in Deanmark. Epidemiological studies os suicide and intervention studies in selected risk groups.Dan Med Bull 2007.PMID: 18208680. 4. Adamek ME,et al.Managing Elder suicide : a profile of American and Canada Crisis Prevention Centrers . Suicide Life Threat Behav.1996.PMID: 8840416 5. Julia Buus Florentine et.al.suicide prevention by limiting access to methods : a review of theory and practice.Soc Med 2010.Dec;71(11):2046 6. Ted Miller , Swedler DI ,Lawrence BA, Ali B, Rockett IRH, Carlson NN, Leonardo J. Incidence and Lethality of Suicidal Overdoses by Class. JAMA Network Open.2020;3(3):e200607.doi:101001/jamanetworkopen.2020.0607.

Ana Beatriz Balieiro Abrahao Psicóloga Clínica, Comunicadora-
Colaboradora do - GREA -IPqFMUSP
Especialista em Psicopatologia Fenomenológica e Pós Bacharelado em Columbia University New York City