Momento Odontologia #96 - Jornal da USP
Gengivite e doença periodontal são outras condições que podem surgir pelo consumo excessivo de álcool.
Uma dose de cachaça, uma cerveja gelada ou uma boa taça de vinho fazem parte do cotidiano do brasileiro. Que o brasileiro gosta de uma bebida não é segredo para ninguém. Um levantamento recente, feito pela Organização Mundial da Saúde, apontou que o consumo de álcool no Brasil supera a média mundial. Entre os 194 países avaliados, o consumo médio mundial para pessoas acima de 15 anos é de 6,2 litros por ano. No Brasil, a média é de 8,7 litros.
Além disso, segundo o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, divulgado em 2019 pela Fiocruz, mais da metade dos brasileiros entre 12 e 65 anos de idade declarou ter consumido bebida alcoólica alguma vez na vida. Por isso, o consumo de bebida alcoólica e a saúde bucal é o tema do Momento Odontologia desta semana.
Problemas para a saúde bucal
“O álcool é danoso para a saúde bucal por diversos motivos”, garante Kellen Cristine Tjioe, doutora em Patologia Bucal pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. A primeira razão, conta Kellen, é que o álcool provoca desidratação, que pode levar para a diminuição do fluxo salivar, “e como a saliva é a pré-limpeza da cavidade bucal, a redução da sua quantidade pode levar a um maior acúmulo de restos alimentares e, consequentemente, de placa bacteriana”. Além disso, a saliva ajuda a manter o PH equilibrado, enquanto a bebida alcoólica tem um PH ácido, “com isso nós temos uma potencialização da desmineralização dentária”.
"As bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja, também têm açúcares em sua composição, o que pode contribuir para o surgimento de cáries. Fora isso, “o maior acúmulo de placa bacteriana e a redução no fluxo salivar podem levar a problemas periodontais, gengivais e contribuir para o mau hálito”.
Segundo Kellen, “como há um maior acúmulo de placas bacterianas nos dentes, a gengiva, que está localizada próxima ao tecido dentário, também sofre alguns efeitos”. O álcool também interfere na circulação sanguínea local e também na resposta imune, levando a um desequilíbrio da resposta do tecido gengival. “Todos esses fatores podem levar à gengivite”, garante. E a gengivite pode evoluir para periodontite, que ocorre quando o tecido ósseo é afetado. A cirurgiã-dentista ainda afirma que pesquisas apontam que a má-higiene bucal é comum em usuários de bebida alcoólica, o que propicia o desenvolvimento da gengivite e da doença periodontal.
Câncer bucal
Uma das maiores preocupações nesta relação entre consumo de bebidas e saúde bucal é o câncer de boca. Segundo Kellen, o risco é ainda mais grave quando se combinam álcool e tabaco. “O risco de desenvolver câncer em pacientes que bebem e fumam é 15 vezes maior que em quem não bebe ou fuma”, destaca. Outro dado interessante, conta ela, é que entre 80% e 90% dos pacientes com câncer bucal são consumidores de bebidas alcoólicas e fumantes.
Recomendações
Apesar de não recomendado, não é proibido ingerir bebidas alcoólicas. Mas, nesse caso, alguns cuidados precisam ser tomados, destaca a especialista, já que “o consumo crônico contribui para o risco do desenvolvimento do câncer bucal e pode interferir na imunidade do indivíduo”. Se a pessoa gosta de beber, “a sugestão é realizar a higiene bucal após o consumo, para não ter o acúmulo do líquido na boca por um longo período de tempo”, destaca. Além disso, as visitas periódicas ao cirurgião-dentista são essenciais para avaliar o surgimento de qualquer condição adversa.
Produção e Apresentação: Rosemeire Talamone
CoProdução: Alexandra Mussolino de Queiroz (FORP), Letícia Acquaviva (FO), Paula Marques e Tiago Rodella (FOB)
Edição Sonora: Gabriel Soares
Edição Geral: Cinderela Caldeira
E-mail: ouvinte@usp.br
Horário: segunda-feira, às 8h05
Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 107,9; ou Ribeirão Preto FM 107.9, ou pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS
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