Imagem: Pixabay
Com o advento da pandemia pelo novo coronavírus, muitos autores descrevem um aumento considerável dos índices de depressão, ansiedade e estresse na população que vivia em isolamento por conta do lockdown. Tais medidas de isolamento social vêm impactando em especial, aos adolescentes, não só por serem uma população vulnerável, mas devido à convivência em pares ou grupos nesta faixa etária.
Em 2010, o VI Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas entre Estudantes já evidenciava o aumento do consumo de álcool entre as adolescentes do sexo feminino. Hoje, quase 10 anos depois, há um consequente aumento em 40% do consumo de álcool em binge entre as mulheres adultas, segundo o Ministério da Saúde. Outro estudo italiano demonstrou um aumento na frequência de intoxicações graves por álcool em adolescentes que procuravam o serviço de emergência, de 0,88% para 11,3% após o fim do lockdown, apresentando quadro de agitação psicomotora e agressividade. Outros estudos destacaram que não só como ocorre no Brasil, mas de forma global, mais adolescentes do sexo feminino tendem a abusar mais do álcool, com aumento significativo na pandemia e que o consumo de álcool e tabaco são alguns dos comportamentos que parecem estar relacionados com o aumento da vulnerabilidade dos jovens na pandemia.
Apesar de o uso de álcool oferecer riscos a qualquer faixa etária, seu consumo na adolescência é mais propenso à dependência, além de ser um preditor de risco para desenvolvimento de transtornos ao longo da vida, associado a alterações neurocognitivas, principalmente nas funções relacionadas a cognição de atenção.
Desta forma, fica cada vez mais notório que esta população dos adolescentes merece melhor atenção, entre os pais, professores e profissionais de saúde e autoridades governamentais, na tentativa de implementar medidas de prevenção ao uso de substâncias.
Referência:
· Carlini et al., VI Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio das Redes Pública e Privada de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras 2010
· VIGITEL (Ministério da Saúde) – 2019. Disponível em: vigitel_brasil_2019_vigilancia_fatores_risco.pdf (saude.gov.br)
· Nguyen-Louie, Tam T et al. “Earlier Alcohol Use Onset Predicts Poorer Neuropsychological Functioning in Young Adults.” Alcoholism, clinical and experimental research vol. 41,12 (2017): 2082-2092. doi:10.1111/acer.13503
· Betts KS, Alati R, Baker P, Letcher P, Hutchinson D, Youssef G, Olsson CA. The natural history of risky drinking and associated harms from adolescence to young adulthood: findings from the Australian Temperament Project. Psychol Med. 2018 Jan;48(1):23-32. doi: 10.1017/S0033291717000654. Epub 2017 Sep 28. PMID: 28956519.
· Grigoletto V, Cognigni M, Occhipinti AA, Abbracciavento G, Carrozzi M, Barbi E, Cozzi G. Rebound of Severe Alcoholic Intoxications in Adolescents and Young Adults After COVID-19 Lockdown. J Adolesc Health. 2020 Nov;67(5):727-729. doi: 10.1016/j.jadohealth.2020.08.017. Epub 2020 Sep 15. PMID: 32943287; PMCID: PMC7490634.
· Smith TS, Bryant PH, Fogger SA. Adolescent Girls and Alcohol Use: Increasing Concern During the COVID-19 Pandemic. J Addict Nurs. 2021 Jan-Mar 01;32(1):59-64. doi: 10.1097/JAN.0000000000000388. PMID: 33646720.
· Stanton R. et al. Depression, Anxiety and Stress during Covid-19: Associations with Changes in Physical Activity, Sleep, Tobacco and Alcohol Use in Australian Adults. Int. J. Environ. Res. Public Health, v. 17, n. 11, p. 4065, 2020.

Dr. Matheus Cheibub David Marin
Psiquiatra e assistente do Grupo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas - GREA - IPq/FMUSP
Psiquiatra Assistente Técnico da Política Municipal de Álcool e Drogas da Prefeitura Municipal de São Paulo SP (Programa Redenção)